Doação de órgãos: Solidariedade que ajuda salvar vidas

Na última semana fomos surpreendidos com a trágica notícia da morte de um dos maiores apresentadores da televisão brasileira, Antônio Augusto de Moraes Liberato, chamado carinhosamente de Gugu Liberato. 

O apresentador de 60 anos sofreu um grave acidente em sua residência nos Estados Unidos. Gugu Liberato teria caído de uma altura de quatro metros, enquanto estava consertando um ar-condicionado que ficava no sótão da residência. A morte do apresentador, reascendeu uma importante discussão sobre a doação de órgãos. Atendendo a solicitação de Gugu Liberato, a família autorizou a doação de todos os órgãos, conforme interesse manifestado em vida pelo apresentador.

Esse desejo foi respeitado, cerca de 50 pacientes podem ser beneficiados diretamente com a doação de órgãos e tecidos, conforme informações da equipe médica que realizou o procedimento. A cirurgia para retirada dos órgãos de Gugu foi realizada entre a noite de sábado e a madrugada de domingo, com mais de seis horas de duração.

Dizer “sim” após a perda de um ente querido pode ser doloroso, mas também pode mudar a vida de milhares de pessoas que esperam por um transplante. O Brasil possui o maior sistema público de transplantes do mundo. Atualmente, cerca de 96% dos procedimentos são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O país é o segundo maior transplantador mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. 

Mais de 19 mil pacientes foram transplantados no Brasil entre janeiro e setembro de 2019, número ainda é inferior ao de pacientes que esperam por procedimentos, segundo dados mais recentes da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). De acordo com último levantamento da ABTO, no Brasil 36.468 pacientes estão na lista de espera. 

Hospital São Vicente de Paulo

O Hospital São Vicente de Paulo de Cruz Alta possui uma Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos para Transplante (CIHDOTT). A comissão é responsável por organizar dentro da rotina hospitalar a detecção de potenciais doadores de órgãos; viabilizando o diagnóstico de morte encefálica, conforme a Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM). Também tem como função criar rotinas para oferecer aos familiares de pacientes falecidos a possibilidade da doação e articular com a Central de Transplante do Estado a organização do processo de doação e captação de órgãos. 

Para o coordenador da CIHDOTT do HSVP, Dr. João Carlos Donadussi, a doação de órgãos deve ser amplamente divulgada. “Precisamos esclarecer as famílias sobre a importância e a nobreza deste ato que, apesar do momento difícil da perda do ente querido, a ação pode ajudar a salvar outras vidas. Muitas vezes, a pessoa não manifesta aos seus familiares o desejo de ser doador de órgãos. Estima-se que para cada oito potenciais doadores no país, apenas um acabe doando de fato, por isso, é importante ampliar as ações de conscientização e de esclarecer as dúvidas em torno do processo de doação”, explica.

A equipe é constituída por cinco membros em seu corpo funcional sendo eles: Coordenador Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos para Transplante, Dr. João Carlos Donadussi; as enfermeiras, Magda Lamaison Santos e Joice Elizabete de Moura; a psicóloga, Indiara Martins e a Assistente Social, Fátima Bronzatti. 

De acordo com a Assistente Social do HSVP, Fátima Bronzatti a comissão busca prestar ajuda e esclarecimento as famílias. “Trabalhamos na busca ativa de potenciais doadores de órgãos, oferecendo apoio e atuando na educação dos pacientes e seus familiares, assim como esclarecendo as dúvidas sobre o processo de doação. É importante prestar um atendimento humanizado as famílias, mas principalmente oferecer a oportunidade da doação de órgãos”, destacou a assistente social Fátima.

Lei de Doação de Órgãos

Em 1997, foi criada a lei que estabeleceu no Brasil a doação de órgãos. Na época, valia o conceito de doação presumida, onde todo mundo era considerado doador em potencial, a menos que tivesse manifestado de forma escrita no documento de identidade ou na carteira de motorista a observação de “Não doador de órgãos e tecidos”. 

No ano de 2001, a lei sofreu modificações e passou a vigorar o conceito de doação consentida. Hoje, a doação de órgãos no Brasil só é feita após a autorização familiar. Por isso, o primeiro passo é deixar claro esse desejo para os parentes, que darão a palavra final. Os órgãos captados são enviados aos pacientes que esperam em uma lista única, definida pela Central de Transplantes das Secretarias de Saúde de cada estado.

A enfermeira do HSVP, Magda Lamaison Santos explica como funciona o processo de captação de órgãos.  “Desde o ano de 2004 o Hospital São Vicente de Paulo de Cruz Alta é uma das instituições no Estado que são aptas para realizar o processo de captação de órgãos. Hoje no Brasil existe uma fila única de possíveis receptores que é regulada pela Central Nacional de Transplantes. Quando abrimos o protocolo de potencial doador, entramos em contato com a Central Estadual de Transplantes para verificar os possíveis receptores. Outro fato importante é que somente após a constatação da morte encefálica e declaração da morte do indivíduo os órgãos podem ser considerados potencialmente aptos para doação para fins de transplante, permitindo salvar outras vidas. Para detectar a morte encefálica são realizados dois exames clínicos, com intervalo de diversas horas, para assegurar um resultado exato, somente após essa detecção iniciamos a abordagem aos familiares”, destacou a enfermeira.

Morte encefálica

Considera-se que houve morte cerebral quando o paciente tem parada irreversível da respiração e de todas as funções do cérebro, incluindo o tronco cerebral. Os procedimentos para determinar a morte encefálica devem ser iniciados em todos os pacientes que apresentam estado de coma não perceptivo, ausência de reflexos do tronco cerebral e interrupção persistente da respiração (apneia).

De acordo com a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), além do neurologista, outros especialistas como médico intensivista, neurocirurgião ou médico de emergência, poderão diagnosticar o fim da atividade cerebral do paciente.

Para constatar a morte cerebral, dois médicos diferentes devem realizar o exame clínico, teste de apeia e exames complementares, como o eletroencefalograma e angiografia cerebral, entre outros.

Para o médico nefrologista do HSVP Paulo Moreira é importante que as pessoas falem aos seus familiares sobre o interesse de serem doadores. “A doação de órgãos é um desejo de generosidade. Quer dizer que uma parte de mim vive ajudando outra pessoa a viver melhor e ter uma boa qualidade de vida. Esse aspecto, primeiro da generosidade e da transcendência tem que ser elaborado previamente com a família. É fundamental que as pessoas deixem claro o interesse em serem doadores”, concluiu o médico.

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